RESUMOS_2015


[em permanente actualização.]


ANNABELA RITA "Ser ou não ser... eis a questão"


Será objectivo desta comunicação reflectir sobre a problemática da identidade cultural, os seus factores de construção e de desconstrução, e a sua cartografia no tempo de Pascoaes.


ANA PAULA PINTO: "A reinvenção mítica no pensamento de Teixeira de Pascoaes"

Com esta apresentação a autora pretende tratar a interacção fecunda de algumas das representações míticas da Antiguidade Greco-latina (nomeadamente as ligadas às divindades olímpicas e figuras primordiais) com referências da espiritualidade bíblica e do maravilhoso tradicional, num enquadramento simbólico de profunda fluidez, capaz de gerar, por um sincretismo dinâmico e visionário, uma nova entidade mítica, expressiva do génio nacional lusíada, a Saudade. Na abordagem destes núcleos simbólico-míticos privilegiar-se-á a produção poética pascoaesiana dotada de afinidades semânticas e formais mais significativas, como os “romances em verso” de pendor épico Marânus e Regresso ao Paraíso.

ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO: "A Arte de ser Português e o Homem Universal"
 



ANTÓNIO MANUEL DE ANDRADE MONIZ: “A Arte de Ser Português: epopeia ou manual pedagógico?”

Em épocas de crise, torna-se imperioso e natural repensar a consciência da identidade própria, individual e coletiva, em ordem a perspetivar um rumo clarividente e corajoso em relação ao futuro. Cinco anos após a implantação da I República, Teixeira de Pascoaes, recolhendo do século XIX a problematização da identidade nacional, numa perspetiva decadentista, contribui, do ponto de vista ideológico e pedagógico, para o aprofundamento dessa problematização. E fá-lo coerentemente a partir do seu projeto ideológico da “Nova Renascença”. Dedicada à mocidade, a Arte de Ser Português visa recolher e configurar, no alfobre da geografia física e humana e da tradição histórico-cultural, os traços fisionómicos da identidade coletiva nacional, de modo a constituir um apelo pedagógico à construção do futuro, em harmonia com a grandeza do legado histórico recebido: a paisagem, o sangue, a língua e a cultura, a história política e institucional. No âmago da alma pátria pulsa a Saudade, símbolo-chave de uma identidade e de uma aspiração. Na análise desse retrato coletivo não falta a crítica aos defeitos emblemáticos, numa aliança entre o idealismo e o realismo histórico. Por isso, mais do que o canto épico de uma gesta e de uma aventura histórica, a Arte de Ser Português, com todo o seu valor literário, constitui um manual ético-pedagógico e um manifesto político, em ordem à reconstrução de um projeto nacional:


Ser português é também uma arte, e uma arte de grande alcance, e, por isso, bem digna de cultura. O mestre que a ensinar aos seus alunos trabalhará como se fora um escultor, modelando as almas juvenis para lhes imprimir os traços fisionómicos da Raça lusíada (PASCOAES, T., 1920, 17)

Palavras-Chaves: identidade, cultura, tradição, saudade, renascença. 



ANTÓNIO MARIA MARTINS MELO: "A ideia de sacrifício, a partir das fontes da Antiguidade Clássica, em Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes"


ARTUR ANSELMO: O conceito de Portugalidade em Teixeira de Pascoais e António Quadros”

ELÍSIO GALA: Arte de Ser Português: Andaimes, Viagem, Regresso" 


FABIO MARIO SILVA: "A mulher em a Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes. Uma leitura a partir dos estudos de género"


Teixeira de Pascoaes ao escrever a sua obra-prima, a Arte de Ser Português, dirgi-se, diretamente, a um leitor masculino e culto. Neste texto ficam também evidentes algumas noções que o autor tem em torno do que seria o masculino e o feminino. Feminino esse resgatado mais enfaticamente, por Pascoaes, através da figura da Virgem Maria. O objetivo do nosso trabalho é apresentar como e porque a divisão dos papéis de género neste texto reproduz algumas das ideias sedimentadas sobre as mulheres, no começo do século XX, em Portugal.


Palavras-chave: mulher, ser português (portuguesa), Teixeira de Pascoaes.




FABRIZIO BOSCAGLIA: “Alma portuguesa e 'atavismos árabes' em Teixeira de Pascoaes" 

Esta comunicação visa abordar a presença arábico-islâmica nos escritos de Teixeira de Pascoaes dedicados à reflexão sobre a essência e a formação da alma portuguesa, isto é, da Saudade. Dar-se-á especial atenção aos textos da década de 1910, nomeadamente à centralidade de Arte de Ser Português neste âmbito, para se mostrar como e em quais circunstâncias o pensamento do autor se focou sobre a componente «árabe» da mentalidade, da cultura e da espiritualidade nacionais. Esta temática será apresentada tendo em especial conta o contexto literário, filosófico e histórico-cultural português do início do século XX.



FERNANDO DE MORAES GEBRA A Arte de Ser Galego: Ecos de Teixeira de Pascoaes na Poética de Alfredo Guisado"


José Carlos Seabra Pereira (1976) assinala ecos do saudosismo de Teixeira de Pascoaes (1877-1952) na poética de Alfredo Pedro Guisado (1891-1975). Na sua Arte de ser português (1915), Pascoaes entende a saudade em dois aspectos simultâneos: a lembrança e a esperança, posição que ecoa no discurso de autores da revista galega A Nosa Terra, como é o caso de Ramón Cabanillas (1876-1959). Nesse periódico, percebe-se a recepção crítica de autores portugueses na Galiza, e se discutem questões relacionadas à política, à identidade e à saudade. O livro de Teixeira de Pascoaes pode ser considerado um ensaio filosófico preocupado com a ontologia do ser português. Afirma-se a “lei do sacrifício”, relacionada a um estado de alma heróico, e que constitui a finalidade educativa do seu livro. Sentem-se esses ecos pascoalinos na poética de Alfredo Guisado durante sua participação nos movimentos agrarista e galeguista. Sua intervenção no campo cultural galego ocorre principalmente entre os anos de 1913 a 1918, conforme dados manejados por Carlos Pazos Justo (2015). Separados pelo rio Minho, Portugal e Galiza apresentam muitos pontos de contato que o grupo de Nosa Terra pretende destacar nas páginas de sua revista. Nesse sentido, a presente comunicação divide-se em três partes: i) um estudo do discurso ensaístico de Teixeira Pascoaes do livro Arte de ser português, com base em teóricos do ensaio – Theodor Adorno, Pedro Chamizo Domínguez e Arturo Casas; ii) breves comentários acerca das publicações e recepção crítica da obra pascoalina em Nosa Terra, com um recorte metodológico centrado nos anos de 1916 a 1921; iii) discussão acerca das publicações de Guisado em Nosa Terra e um estudo dos ecos de uma filosofia da saudade, de matriz pascoalina, na sua poética, nomeadamente em poemas com referência à Galiza. Alfredo Guisado preocupa-se com questões identitárias em livros como Rimas da noite e da tristeza (1913) e Xente d’a aldea (1921) e nas páginas dos periódicos galegos El Tea e A Nosa Terra. A afirmação da identidade portuguesa, relacionada à Pátria, presente no discurso ensaístico de Arte de ser português, encontra, pois, ecos nas afirmações identitárias galeguistas em oposição ao modelo centralista castelhano. No caso particular de Alfredo Guisado, dividido por duas culturas (a portuguesa e a galega), o autor busca conciliá-las no seu discurso poético, tributário da filosofia da saudade pascoalina.


Palavras-chave: Teixeira de Pascoaes; Alfredo Guisado; discurso ensaístico; identidade cultural.


HELENA CARVALHO


ISABEL MATEUS


JOÃO PEDRO CAMBADO: "Notas para uma filosofia da História em Teixeira de Pascoaes" 


JOAQUIM DOMINGUES "Haja Portugal!" 



JORGE COUTINHO: "A antropologia de Pascoaes em Arte de Ser Português" 


Arte de Ser Português é um livro didáctico e, portanto, pedagógico. Toda a pedagogia tem subjacente uma antropologia. Procura-se neste texto identificar que via ou vias seguiu Pascoaes para a estabelecer, quais as suas linhas fundamentais, quais as suas marcas caracterizantes, enfim, que traços essenciais definem o homem verdadeiramente português. Em resumo, pode-se dizer que esta é uma antropologia cultural, com intenção pedagógica, hermenêutica nas vias seguidas para a sua caracterização, obedecendo a uma perspectiva rural, com as marcas de racialista e nacionalista e, no seu núcleo essencial, saudosista e idealista.


JORGE CROCE RIVERA "Indivíduo, Sacrifício e Paisagem na Arte de Ser Português"


Exortaçãà juventude ou metafísica juvenil? Relendo  a Arte do Ser Português desde os tópicos  de indivíduosacrifíciopaisagem, a comunicação procura mostrar, para além do valor  das propostas poético-políticas,  marcadas pelo contexto histórico da sua escrita (1915) e actualização (1920), que a estruturação interna do texto, seja na sua  progressiva altitude a que visa, seja na amplitude que a arte pretende envolver, decorre de um conjunto de operações sobre aquelas três noções, que, permanecendo todavia impensadas,  revelam os aspectos problemáticos de um  pensar ainda imaturo, de uma precipitação pragmática, que ter-se-á de aprofundar para alcançar a dimensão visionária e libertadora que atravessa o pensamento poético de Pascoaes.   



JORGE LEANDRO ROSA: "O possível político: uma releitura mítico-simbólica de Pascoaes sobre Portugal" 


JOSÉ ALMEIDA



JOSÉ CÂNDIDO DE OLIVEIRA MARTINS "A literatura como revelação do génio nacional em Teixeira de Pascoaes – intuições e aporias"



MANUEL CÂNDIDO PIMENTEL


MANUEL FERREIRA PATRÍCIO



MANUEL REZENDE: "O Municipalismo entre Teixeira de Pascoaes e o Integralismo Lusitano: Mitologias e Identidades"


O municipalismo constituiu uma das principais correntes teóricas de doutrina política do século XIX e XX em Portugal. Muitas vezes reclamando uma origem mítica, noutras recorrendo a uma memória emancipadora há muito olvidada pelos séculos, o municipalismo procurou, tanto pela pena de republicanos, de monárquicos e de indiferentes, restaurar as forças de uma nação que se diagnosticava como cansada, derrotada, doente. Remédio institucional, político, social, económico e moral da Nação, o municipalismo assumiu as formas de uma invocação histórica do verdadeiro espírito da res publica, mas também se muniu da mais avançada análise jurídica, administrativa, étnica, económica e até psicológica da altura. É neste ponto de viragem para uma abordagem científica de um património que se crê irrefutavelmente identitário que o pensamento político de Pascoaes se encontra com o de outros autores do Integralismo Lusitano, como António Sardinha. A evocação localista nos dois autores, mais do que expressa doutrinariamente, é sentida e vivida poeticamente. Com Teixeira de Pascoaes, lê-se no Marânus, Terra Proibida, Sombras, e em Sardinha, com especial força em poemas como Évora-Cidade. Inspirados nos seus antecessores literários, bem como nas tendências ideológicas da época, Sardinha e Pascoaes fundiram-se com um processo que visava recuperar uma memória e, na ausência dela, repensá-la, recriá-la ou inventá-la.

MÁRIO GARCIA: "Os poetas lusíadas: uma história "espiritual" da pátria literária"


MÁRIO VÍTOR BASTOS: “A Universalidade do Lugar e do Ser em Teixeira de Pascoes: Para uma leitura de A Arte de Ser Português”   
 

Figura cimeira da poesia portuguesa do século XX, precursora de Fernando Pessoa entre outros, Teixeira de Pascoaes (1877-1952) desenvolveu, a par da sua poesia, um pensamento político, social, educativo, filosófico e identitário, em muito tributário, do seu envolvimento com o movimento da Renascença Portuguesa, e fixado em sobretudo em artigos, inicialmente publicados no Porto na revista A Águia (1910-1932). Alguns destes textos de índole doutrinária deram origem em 1915 a um pequeno livro que recebeu por título A Arte de Ser Português. Um marco na literatura portuguesa do início do século XX, A Arte de Ser Português é precisamente publicado no ano em que a polémica revista Orpheu surge em Lisboa. A prosa de Pascoaes de em A Arte de Ser Português como exemplo de uma expressão clara e concisa a qual, no entanto, não abdica de uma forte poeticidade que lhe está na origem.
Esta comunicação aborda alguns aspectos centrais deste livro maior de Teixeira de Pascoaes, sondando tanto o que nele está historicamente marcado como o que permanece intemporal e presente. Assim, de modo a compreender a sua actualidade (ou falta da mesma), algumas perguntas centrais terão de ser feitas: será A Arte de Ser Português, nos nossos dias, um livro politicamente incorrecto ou, pelo contrário, conterá ele valores que permanecem e permanecerão actuais e actuantes na construção do indivíduo e do colectivo onde se insere? Uma segunda grande pergunta deve sondar o conceito de Ser de Teixeira de Pascoaes. O que é mais importante: o Ser ou o Ser Português? Qual a diferença entre estes dois conceitos existenciais, e de que modos se opõem e complementam? Estará a diferença apenas na língua, pois, como refere Pascoaes, a filosofia portuguesa está contida na própria língua portuguesa? Ou será o Portugal de Teixeira de Pascoaes hoje “apenas” um vasto espaço poético, literário e imaginário?
Para responder ao que é, de facto, um complexo núcleo de questões onde o estudo identitário se cruza com o estudo da poesia e da literatura, em particular portuguesas, A Arte de Ser Português será, neste breve estudo, entendido tanto como um texto fechado, completo no sentido e na forma, com uma índole própria; e como um texto aberto, processualmente dinâmico, pois, como como Pascoaes confessou, A Arte de Ser Português é um livro e um processo necessariamente incompletos, que necessitam de ser prosseguidos, ampliados e aprofundados, em primeiro lugar pelos seus leitores atentos. Contudo, as respostas às questões que a Arte de Ser Português nos coloca não podem ser fáceis pois, como sabemos, toda e qualquer arte é difícil, exige esforço, dedicação, conhecimento e prática.


MENDO CASTRO HENRIQUES


MIGUEL REAL: "Pascoaes e o profetismo filosófico"


PAULO SAMUEL: "Entre «Orpheu» e «Arte de Ser Português» - algo mais do que 70 dias..."


Trata-se de uma "leitura" que distingue e caracteriza o que foi o projecto Orpheu e o programa pascoaesiano, com acento na divergência entre a vertente estética pessoana e os imperativos teleológicos de Pascoaes. Questiona-se o lugar-comum que assinala na Literatura uma "geração d'Orpheu", a favor de uma linhagem "saudosista", que perdura até ao século XXI. Mostra-se o que marcou o fenómeno Orpheu (com o seu mediatismo) e o que tem silenciado a publicação do livro de Pascoaes, em particular o ideário que nele se expressa.



PAULO ALEXANDRE LOUÇÃO: "Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes e as raízes arcaicas no Ocidente Peninsular"



PAULO FERNANDO MOTTA OLIVEIRA: "Arte de Ser Português: entre A Águia e A nossa fome"

Há um século Pascoaes publicou um livro que tinha por objetivo elaborar uma cartilha para uma educação lusitana. Seu prefácio, em que prega que a instrução secundária deve “além das verdades que ensina aos alunos, ensinar-lhes (...) igualmente a verdade portuguesa, cujo conhecimento se impõe como força reconstrutiva da Pátria, dentro do seu caráter, da sua alma tradicional evoluída até ao grau de perfeição atingido pelo espírito humano, no século presente”[1], tem um final melancólico: "Instruir, educar e criar portugueses seria visar um duplo ideal humano e patriótico, a bela conclusão do curso geral dos Liceus. Não foi a vaidade que ditou as palavras deste ligeiro Prefácio, mas um desejo sincero de me tornar útil à minha terra. A ideia aí fica, ficando-me também a tristeza de a não ver frutificar[2]O objetivo de nosso ensaio é o de entender essa melancolia, correlacionando-a seja com a participação de Pascoaes em A Águia, seja com textos posteriores, como Os Poetas Lusíadas e A nossa fome.



[1] PASCOAES, Teixeira de. Arte de Ser Português. Lisboa: Edições Roger Delraux, 1978, p. 12.
[2] Id., Ibid., pp. 12-13



PEDRO MARTINS "A querela Pascoaes/Sérgio - Substância e Horizonte" 


A polémica mantida, pelo meado da década de 10, entre António Sérgio e Teixeira de Pascoaes na segunda série da revista A Águia, órgão da Renascença Portuguesa, constitui-se, porventura, dadas as suas sequelas, tão duradoras que ainda hoje se fazem sentir, como a grande fractura da cultura portuguesa no século XX. Entender o que nela esteve em jogo passa também por verificar como, nas gerações seguintes, de Álvaro Ribeiro e Agostinho da Silva a António Telmo e António Cândido Franco, foi a querela encarada, mormente pelo prisma da sua superação.


PEDRO SINDE: "O futuro da arte de ser português"  


RENATO EPIFÂNIO: "A arte de ser lusófono"


Nos 100 anos da Arte de Ser Português, propomos uma (re)leitura dos seus quatro primeiros capítulos. Assim, citaremos, em itálico, excertos desses quatro primeiros capítulos, que nos permitimos actualizar em prol do novo horizonte que, a nosso ver, se abre a Portugal no Século XXI: o da Convergência Lusófona. Ser lusófono é também uma arte. Uma arte, porém, não apenas de alcance nacional, mas, sobretudo, trans-nacional. A condição lusófona, com efeito, não é compatível com a posição estritamente nacionalista. O mestre que a ensinar aos seus alunos, trabalhará como se fora um escultor, modelando as almas juvenis para lhe imprimir os traços fisionómicos do ser lusófono. São eles que a destacam e lhe dão personalidade própria, a qual se projecta em lembrança no passado, e em esperança e desejo no futuro. E, em si, realiza, deste modo, aquela unidade da morte e da vida, do espírito e da matéria, que caracteriza o Ser. O fim desta Arte é a renascença lusófona, tentada pela reintegração dos portugueses [e de todos os demais lusófonos] no carácter que por tradição e herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social, subordinada a um objectivo comum superior. Em duas palavras: colocar a nossa Pátria [lusófona, não apenas portuguesa] ressurgida em frente do seu Destino. As Descobertas foram o início da sua Obra. Desde então até hoje tem dormido. Desperta, saberá concluí-la…ou melhor, continuá-la, porque o definitivo não existe. (…) A Lusofonia é uma Pátria porque existe uma Língua Portuguesa, uma Arte, uma Literatura, uma História (incluindo a religiosa) – uma actividade moral; e, sobretudo, porque existe uma Língua e uma HistóriaA faculdade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus sentimentos e pensamentos, é o que melhor revela o seu poder de carácter. Por isso, quanto mais palavras intraduzíveis tiver uma Língua, mais carácter demonstra o Povo que a falar. A nossa, por exemplo, é muito rica em palavras desta natureza, nas quais verdadeiramente se perscruta o seu génio inconfundívelE é pelo estudo psicológico destes vocábulos, comparado com o estudo das nuances originais (de natureza sentimental e intelectual) descobertas nas Letras, na Arte, na Jurisprudência, no sentimento religioso de um Povo, que podemos definir a sua personalidade espiritual, e daí concluir para o seu destino social e humano. Se a nossa alma, em seu trabalho de exteriorização verbal, se condensou em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonicamente originais, também nas obras dos nossos escritores e artistas autênticos se nota uma instintiva compreensão da Vida, em perfeito acordo com o génio da Língua portuguesa. (…) Uma Pátria é também um ser vivo superior aos indivíduos que o constituem, marcando, além e acima deles, uma nova individualidade. Esta nova Individualidade representa consequentemente uma expressão da Vida superior à vida animal e humana. A Pátria Lusófona é um ser espiritual que depende da vida individual dos lusófonos. Por outra: as vidas individuais e humanas dos lusófonos, sintetizadas, numa esfera transcendente, originam a Pátria Lusófona. Temos de considerar a nossa Pátria como um ser espiritual, a quem devemos sacrificar a nossa vida animal e transitória. (…) Observando agora o processo por que os seres se perpetuam e progridem, vemos que os imperfeitos representam transições para os mais perfeitos. O perfeito alimenta-se do imperfeito. O superior vive do inferior.
A lei suprema da vida é, portanto, a lei do sacrifício das formas superiores às superiores. Até no mundo físico de revela e tem o nome de gravidade. O corpo menor é atraído pelo maior. Atrair é viver; ser atraído é morrer. O pequeno corpo atraído perde-se, morre no grande corpo que atrai… Os seres não realizam em si o seu destino, mas naqueles a que sacrificam a sua existência. O rio é a morte de muitas fontes e o mar é a morte de muitos rios; mas o rio no mar é mar. A consciência humana é também morte, o sacrifício de muitas vidas animais e vegetais inferiores a ela. Assim o indivíduo sacrificado à Pátria fica também a ser Pátria. Cumpriu a fonte o seu destino, tornando-se rio, e o rio, tornando-se mar e o indivíduo tornando-se Família, Pátria, Humanidade, subindo da sua natureza individual e animal à perfeita natureza do Espírito. Nuno Álvares, por exemplo, morreu como homem para viver como Portugal. Do mesmo modo, Portugal e as demais nações e regiões lusófonas devem sacrificar-se em prol da Pátria Lusófona.

RUI SOUSA: 




SOFIA A. CARVALHO: "O devir messiânico-profético no pensamento português: linhas e rupturas em Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes e em Arte de continuar português em António Quadros".


TÂNIA PEGO: "Filhos sem Pátria: Uma geração à deriva"

Palmilhando o rasto dos grandes navegadores/conquistadores/desbravadores, os portugueses nunca deixaram de empreender viagens para outros portos, para outras paisagens, herdando deles a procura “quase” incessante do seu “el-dourado”. Na bagagem carregam a “esperança” e a “lembrança”, palavras caras a Teixeira de Pascoes, que entendemos como sendo dois dos propulsores do movimento/viagem/migração dos portugueses e que, por arrastamento, definem a saudosista “alma lusíada”. Os que por outras paragens se deixaram encantar foram, gradualmente, perdendo a ligação com a pátria, não sem antes imprimirem a marca lusitana em seus herdeiros. Sub-repticiamente, os novos hábitos exigidos pelas necessidades de adaptação e de aceitação, foram esfumando o apego natal, criando novas fontes de paixão e lealdade, que, por sua vez, permitiram despontar os primeiros ecos de negação da sua terra e da sua gente. Os que não viram os seus sonhos satisfeitos e optaram por regressar à casa, vindos sobretudo de França, África, Brasil, encontraram alguns irmãos agrestes, que os receberam com palavras marcadamente discriminatórias: “fracesus”, “retornados”, “brasileiros”. Entenderiam eles que os que pisaram solo de outra mãe já não seriam nacionais puros, dignos de engrossarem as fileiras de sua “nação valente e imortal” por se encontrarem partidos/contaminados/descomprometidos? Percorrendo transversalmente uma breve coletânea de músicas contemporâneas portuguesas (“Homem do Leme”, “Filhos da Nação”, “Para os Braços da Minha Mãe”), onde se veem refletidos o impulso de ir, a saudade pungente que conduz a um retorno nem sempre amargo, pretende-se, recorrendo a Eça de Queirós, Eduardo Lourenço, Miguel Real, esboçar, em uma não tão boa moda pascoalina, uma (auto)biografia, recolhida por meio de depoimentos diretos e por observação de casos, dos filhos que viram a “mátria” tornar-se “madrasta”.


Palavras-Chave: viagem, saudosismo, pátria, negação, identidade.