[em permanente actualização.]
ANNABELA RITA "Ser ou não ser... eis a questão"
Será objectivo desta comunicação reflectir sobre a problemática da identidade cultural, os seus factores de construção e de desconstrução, e a sua cartografia no tempo de Pascoaes.
ANA PAULA PINTO: "A reinvenção mítica no pensamento de Teixeira de Pascoaes"
Com esta apresentação a autora pretende tratar a interacção fecunda de
algumas das representações míticas da Antiguidade Greco-latina (nomeadamente as
ligadas às divindades olímpicas e figuras primordiais) com referências da
espiritualidade bíblica e do maravilhoso tradicional, num enquadramento
simbólico de profunda fluidez, capaz de gerar, por um sincretismo dinâmico e
visionário, uma nova entidade mítica, expressiva do génio nacional lusíada, a
Saudade. Na abordagem destes núcleos simbólico-míticos privilegiar-se-á a
produção poética pascoaesiana dotada de afinidades semânticas e formais mais
significativas, como os “romances em verso” de pendor épico Marânus e Regresso ao Paraíso.
ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO: "A Arte de ser Português e o Homem Universal"
ANTÓNIO MANUEL DE ANDRADE MONIZ: “A
Arte de Ser Português: epopeia ou
manual pedagógico?”
Em épocas de crise, torna-se imperioso e natural repensar a consciência da identidade própria, individual e coletiva, em ordem a perspetivar um rumo clarividente e corajoso em relação ao futuro. Cinco anos após a implantação da I República, Teixeira de Pascoaes, recolhendo do século XIX a problematização da identidade nacional, numa perspetiva decadentista, contribui, do ponto de vista ideológico e pedagógico, para o aprofundamento dessa problematização. E fá-lo coerentemente a partir do seu projeto ideológico da “Nova Renascença”. Dedicada à mocidade, a Arte de Ser Português visa recolher e configurar, no alfobre da geografia física e humana e da tradição histórico-cultural, os traços fisionómicos da identidade coletiva nacional, de modo a constituir um apelo pedagógico à construção do futuro, em harmonia com a grandeza do legado histórico recebido: a paisagem, o sangue, a língua e a cultura, a história política e institucional. No âmago da alma pátria pulsa a Saudade, símbolo-chave de uma identidade e de uma aspiração. Na análise desse retrato coletivo não falta a crítica aos defeitos emblemáticos, numa aliança entre o idealismo e o realismo histórico. Por isso, mais do que o canto épico de uma gesta e de uma aventura histórica, a Arte de Ser Português, com todo o seu valor literário, constitui um manual ético-pedagógico e um manifesto político, em ordem à reconstrução de um projeto nacional:
Em épocas de crise, torna-se imperioso e natural repensar a consciência da identidade própria, individual e coletiva, em ordem a perspetivar um rumo clarividente e corajoso em relação ao futuro. Cinco anos após a implantação da I República, Teixeira de Pascoaes, recolhendo do século XIX a problematização da identidade nacional, numa perspetiva decadentista, contribui, do ponto de vista ideológico e pedagógico, para o aprofundamento dessa problematização. E fá-lo coerentemente a partir do seu projeto ideológico da “Nova Renascença”. Dedicada à mocidade, a Arte de Ser Português visa recolher e configurar, no alfobre da geografia física e humana e da tradição histórico-cultural, os traços fisionómicos da identidade coletiva nacional, de modo a constituir um apelo pedagógico à construção do futuro, em harmonia com a grandeza do legado histórico recebido: a paisagem, o sangue, a língua e a cultura, a história política e institucional. No âmago da alma pátria pulsa a Saudade, símbolo-chave de uma identidade e de uma aspiração. Na análise desse retrato coletivo não falta a crítica aos defeitos emblemáticos, numa aliança entre o idealismo e o realismo histórico. Por isso, mais do que o canto épico de uma gesta e de uma aventura histórica, a Arte de Ser Português, com todo o seu valor literário, constitui um manual ético-pedagógico e um manifesto político, em ordem à reconstrução de um projeto nacional:
Ser português é também
uma arte, e uma arte de grande alcance, e, por isso, bem digna de cultura. O
mestre que a ensinar aos seus alunos trabalhará como se fora um escultor,
modelando as almas juvenis para lhes imprimir os traços fisionómicos da Raça
lusíada (PASCOAES, T., 1920, 17)
Palavras-Chaves:
identidade, cultura, tradição, saudade, renascença.
ANTÓNIO MARIA MARTINS MELO: "A ideia de sacrifício, a partir das fontes da Antiguidade Clássica, em Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes"
ARTUR ANSELMO: “O conceito de Portugalidade em Teixeira de Pascoais e António Quadros”
ELÍSIO GALA: “Arte de Ser Português: Andaimes, Viagem, Regresso"
FABIO MARIO SILVA: "A mulher em a Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes. Uma leitura a partir dos estudos de género"
Teixeira
de Pascoaes ao escrever a sua obra-prima, a Arte
de Ser Português, dirgi-se, diretamente, a um leitor masculino e culto.
Neste texto ficam também evidentes algumas noções que o autor tem em torno do
que seria o masculino e o feminino. Feminino esse resgatado mais enfaticamente,
por Pascoaes, através da figura da Virgem Maria. O objetivo do nosso trabalho é
apresentar como e porque a divisão dos papéis de género neste texto reproduz
algumas das ideias sedimentadas sobre as mulheres, no começo do século XX, em
Portugal.
Palavras-chave: mulher, ser português
(portuguesa), Teixeira de Pascoaes.
FABRIZIO BOSCAGLIA: “Alma portuguesa e 'atavismos árabes' em Teixeira de Pascoaes"
Esta
comunicação visa abordar a presença arábico-islâmica nos escritos de Teixeira
de Pascoaes dedicados à reflexão sobre a essência e a formação da alma
portuguesa, isto é, da Saudade.
Dar-se-á especial atenção aos textos da década de 1910, nomeadamente à
centralidade de Arte de Ser Português neste
âmbito, para se mostrar como e em quais circunstâncias o pensamento do autor se
focou sobre a componente «árabe» da mentalidade, da cultura e da
espiritualidade nacionais. Esta temática será apresentada tendo em especial conta
o contexto literário, filosófico e histórico-cultural português do início do
século XX.
FERNANDO DE MORAES GEBRA “A Arte de Ser Galego: Ecos de Teixeira de Pascoaes na Poética de Alfredo Guisado"
José Carlos Seabra Pereira (1976) assinala ecos
do saudosismo de Teixeira de Pascoaes (1877-1952) na poética de Alfredo Pedro Guisado
(1891-1975). Na sua Arte de ser português
(1915), Pascoaes entende a saudade em dois aspectos simultâneos: a lembrança e
a esperança, posição que ecoa no discurso de autores da revista galega A Nosa Terra, como é o caso de Ramón
Cabanillas (1876-1959). Nesse periódico, percebe-se a recepção crítica de
autores portugueses na Galiza, e se discutem questões relacionadas à política,
à identidade e à saudade. O livro de Teixeira de Pascoaes pode ser considerado
um ensaio filosófico preocupado com a ontologia do ser português. Afirma-se a
“lei do sacrifício”, relacionada a um estado de alma heróico, e que constitui a
finalidade educativa do seu livro. Sentem-se esses ecos pascoalinos na poética
de Alfredo Guisado durante sua participação nos movimentos agrarista e
galeguista. Sua intervenção no campo cultural galego ocorre principalmente
entre os anos de 1913 a 1918, conforme dados manejados por Carlos Pazos Justo
(2015). Separados pelo rio Minho, Portugal e Galiza apresentam muitos pontos de
contato que o grupo de Nosa Terra
pretende destacar nas páginas de sua revista. Nesse sentido, a presente
comunicação divide-se em três partes: i) um estudo do discurso ensaístico de
Teixeira Pascoaes do livro Arte de ser
português, com base em teóricos do ensaio – Theodor Adorno, Pedro Chamizo
Domínguez e Arturo Casas; ii) breves comentários acerca das publicações e
recepção crítica da obra pascoalina em Nosa
Terra, com um recorte metodológico centrado nos anos de 1916 a 1921; iii) discussão
acerca das publicações de Guisado em Nosa
Terra e um estudo dos ecos de uma filosofia da saudade, de matriz pascoalina,
na sua poética, nomeadamente em poemas com referência à Galiza. Alfredo Guisado
preocupa-se com questões identitárias em livros como Rimas da noite e da tristeza (1913) e Xente d’a aldea (1921) e nas páginas dos periódicos galegos El Tea e A Nosa Terra. A afirmação da identidade portuguesa, relacionada à
Pátria, presente no discurso ensaístico de Arte
de ser português, encontra, pois, ecos nas afirmações identitárias
galeguistas em oposição ao modelo centralista castelhano. No caso particular de
Alfredo Guisado, dividido por duas culturas (a portuguesa e a galega), o autor
busca conciliá-las no seu discurso poético, tributário da filosofia da saudade
pascoalina.
Palavras-chave: Teixeira de
Pascoaes; Alfredo Guisado; discurso ensaístico; identidade cultural.
HELENA CARVALHO
ISABEL MATEUS
JOÃO PEDRO CAMBADO: "Notas para uma filosofia da História em Teixeira de Pascoaes"
JOAQUIM DOMINGUES "Haja Portugal!"
JORGE COUTINHO: "A antropologia de Pascoaes em Arte de Ser Português"
Arte de Ser Português é um livro didáctico e, portanto, pedagógico.
Toda a pedagogia tem subjacente uma antropologia. Procura-se neste texto
identificar que via ou vias seguiu Pascoaes para a estabelecer, quais as suas
linhas fundamentais, quais as suas marcas caracterizantes, enfim, que traços
essenciais definem o homem verdadeiramente português. Em resumo, pode-se dizer
que esta é uma antropologia cultural, com intenção pedagógica, hermenêutica nas
vias seguidas para a sua caracterização, obedecendo a uma perspectiva rural,
com as marcas de racialista e nacionalista e, no seu núcleo essencial,
saudosista e idealista.
JORGE CROCE RIVERA "Indivíduo, Sacrifício e Paisagem na Arte de Ser Português"
Exortação à juventude
ou metafísica juvenil? Relendo a Arte do Ser Português desde
os tópicos de “indivíduo”, “sacrifício”e “paisagem”, a comunicação procura
mostrar, para além do valor das propostas poético-políticas, marcadas
pelo contexto histórico da sua escrita (1915) e actualização (1920), que
a estruturação interna do texto, seja na sua progressiva altitude a que
visa, seja na amplitude que a “arte” pretende envolver, decorre de um conjunto de
operações sobre aquelas três noções, que, permanecendo todavia impensadas, revelam
os aspectos problemáticos de um pensar ainda imaturo, de uma
precipitação pragmática, que ter-se-á de
aprofundar para alcançar a dimensão visionária e libertadora que atravessa o pensamento poético de
Pascoaes.
JORGE LEANDRO ROSA: "O possível político: uma releitura mítico-simbólica de Pascoaes sobre Portugal"
JOSÉ ALMEIDA
JOSÉ CÂNDIDO DE OLIVEIRA MARTINS "A literatura como revelação do génio nacional em Teixeira de Pascoaes – intuições e aporias"
MANUEL CÂNDIDO PIMENTEL
MANUEL FERREIRA PATRÍCIO
MANUEL REZENDE: "O Municipalismo entre Teixeira de Pascoaes e o Integralismo
Lusitano: Mitologias e Identidades"
MÁRIO GARCIA: "Os poetas lusíadas: uma história "espiritual" da pátria literária"
MÁRIO VÍTOR BASTOS: “A Universalidade do Lugar e do Ser em Teixeira de Pascoes: Para uma leitura de A Arte de Ser Português”
MENDO CASTRO HENRIQUES
MIGUEL REAL: "Pascoaes e o profetismo filosófico"
O
municipalismo constituiu uma das principais correntes teóricas de doutrina
política do século XIX e XX em Portugal. Muitas vezes reclamando uma origem
mítica, noutras recorrendo a uma memória emancipadora há muito olvidada pelos
séculos, o municipalismo procurou, tanto pela pena de republicanos, de
monárquicos e de indiferentes, restaurar as forças de uma nação que se
diagnosticava como cansada, derrotada, doente. Remédio institucional, político,
social, económico e moral da Nação, o municipalismo assumiu as formas de uma
invocação histórica do verdadeiro espírito da res publica, mas também se muniu da mais avançada análise jurídica,
administrativa, étnica, económica e até psicológica da altura. É neste ponto de viragem para uma
abordagem científica de um património que se crê irrefutavelmente identitário
que o pensamento político de Pascoaes se encontra com o de outros autores do
Integralismo Lusitano, como António Sardinha. A evocação localista nos dois
autores, mais do que expressa doutrinariamente, é sentida e vivida
poeticamente. Com Teixeira de Pascoaes, lê-se no Marânus, Terra Proibida, Sombras, e em Sardinha, com especial
força em poemas como Évora-Cidade. Inspirados nos seus antecessores
literários, bem como nas tendências ideológicas da época, Sardinha e Pascoaes
fundiram-se com um processo que visava recuperar uma memória e, na ausência
dela, repensá-la, recriá-la ou inventá-la.
MÁRIO GARCIA: "Os poetas lusíadas: uma história "espiritual" da pátria literária"
MÁRIO VÍTOR BASTOS: “A Universalidade do Lugar e do Ser em Teixeira de Pascoes: Para uma leitura de A Arte de Ser Português”
Figura cimeira da poesia
portuguesa do século XX, precursora de Fernando Pessoa entre outros, Teixeira
de Pascoaes (1877-1952) desenvolveu, a par da sua poesia, um pensamento
político, social, educativo, filosófico e identitário, em muito tributário, do
seu envolvimento com o movimento da Renascença
Portuguesa, e fixado em sobretudo em artigos, inicialmente publicados no
Porto na revista A Águia (1910-1932).
Alguns destes textos de índole doutrinária deram origem em 1915 a um pequeno
livro que recebeu por título A Arte de
Ser Português. Um marco na literatura portuguesa do início do século XX, A Arte de Ser Português é precisamente publicado
no ano em que a polémica revista Orpheu
surge em Lisboa. A prosa de Pascoaes de em A
Arte de Ser Português como exemplo de uma expressão clara e concisa a qual,
no entanto, não abdica de uma forte poeticidade que lhe está na origem.
Esta comunicação aborda alguns
aspectos centrais deste livro maior de Teixeira de Pascoaes, sondando tanto o
que nele está historicamente marcado como o que permanece intemporal e presente. Assim, de modo a compreender a sua
actualidade (ou falta da mesma), algumas perguntas centrais terão de ser
feitas: será A Arte de Ser Português,
nos nossos dias, um livro politicamente incorrecto ou, pelo contrário, conterá ele
valores que permanecem e permanecerão actuais e actuantes na construção do
indivíduo e do colectivo onde se insere? Uma segunda grande pergunta deve
sondar o conceito de Ser de Teixeira
de Pascoaes. O que é mais importante: o Ser ou o Ser Português? Qual a
diferença entre estes dois conceitos existenciais, e de que modos se opõem e
complementam? Estará a diferença apenas na língua, pois, como refere Pascoaes,
a filosofia portuguesa está contida na própria língua portuguesa? Ou será o
Portugal de Teixeira de Pascoaes hoje “apenas” um vasto espaço poético, literário
e imaginário?
Para responder ao que é, de
facto, um complexo núcleo de questões onde o estudo identitário se cruza com o
estudo da poesia e da literatura, em particular portuguesas, A Arte
de Ser Português será, neste breve estudo, entendido tanto como um texto fechado,
completo no sentido e na forma, com uma índole própria; e como um texto aberto,
processualmente dinâmico, pois, como como Pascoaes confessou, A Arte de Ser Português é um livro e um
processo necessariamente incompletos, que necessitam de ser prosseguidos,
ampliados e aprofundados, em primeiro lugar pelos seus leitores atentos. Contudo,
as respostas às questões que a Arte de
Ser Português nos coloca não podem ser fáceis pois, como sabemos, toda e
qualquer arte é difícil, exige
esforço, dedicação, conhecimento e prática.
MENDO CASTRO HENRIQUES
MIGUEL REAL: "Pascoaes e o profetismo filosófico"
PAULO SAMUEL: "Entre «Orpheu» e «Arte de Ser Português» - algo mais do que 70 dias..."
Trata-se de uma
"leitura" que distingue e caracteriza o que foi o projecto Orpheu e
o programa pascoaesiano, com acento na divergência entre a vertente estética
pessoana e os imperativos teleológicos de Pascoaes. Questiona-se o lugar-comum
que assinala na Literatura uma "geração d'Orpheu", a favor de
uma linhagem "saudosista", que perdura até ao século XXI. Mostra-se o
que marcou o fenómeno Orpheu (com o seu mediatismo) e o que
tem silenciado a publicação do livro de Pascoaes, em particular o ideário que
nele se expressa.
PAULO ALEXANDRE LOUÇÃO: "Arte de Ser Português de Teixeira de
Pascoaes e as raízes arcaicas no Ocidente Peninsular"
PAULO FERNANDO MOTTA OLIVEIRA: "Arte de Ser Português: entre A Águia e A nossa fome"
Há um século Pascoaes
publicou um livro que tinha por objetivo elaborar uma cartilha para uma educação
lusitana. Seu prefácio, em que prega que a instrução secundária deve “além
das verdades que ensina aos alunos, ensinar-lhes (...) igualmente a verdade
portuguesa, cujo conhecimento se impõe como força reconstrutiva da Pátria,
dentro do seu caráter, da sua alma tradicional evoluída até ao grau de
perfeição atingido pelo espírito humano, no século presente”[1], tem um
final melancólico: "Instruir, educar e criar
portugueses seria visar um duplo ideal humano e patriótico, a bela conclusão do
curso geral dos Liceus. Não foi a vaidade que ditou as
palavras deste ligeiro Prefácio, mas um desejo sincero de me tornar útil à
minha terra. A ideia aí fica, ficando-me também a
tristeza de a não ver frutificar” [2]. O objetivo de nosso ensaio é o de entender essa
melancolia, correlacionando-a seja com a participação de Pascoaes em A Águia,
seja com textos posteriores, como Os Poetas Lusíadas e A nossa fome.
[2] Id., Ibid., pp. 12-13
A polémica mantida, pelo meado da década de 10, entre
António Sérgio e Teixeira de Pascoaes na segunda série da revista A Águia, órgão da Renascença Portuguesa,
constitui-se, porventura, dadas as suas sequelas, tão duradoras que ainda hoje
se fazem sentir, como a grande fractura da cultura portuguesa no século XX. Entender
o que nela esteve em jogo passa também por verificar como, nas gerações
seguintes, de Álvaro Ribeiro e Agostinho da Silva a António Telmo e António
Cândido Franco, foi a querela encarada, mormente pelo prisma da sua superação.
PEDRO SINDE: "O futuro da arte de ser português"
RENATO EPIFÂNIO: "A arte de ser lusófono"
Nos 100 anos da Arte de Ser Português, propomos uma
(re)leitura dos seus quatro primeiros capítulos. Assim, citaremos, em itálico,
excertos desses quatro primeiros capítulos, que nos permitimos actualizar em
prol do novo horizonte que, a nosso ver, se abre a Portugal no Século XXI: o da
Convergência Lusófona. Ser lusófono é também uma arte. Uma arte, porém, não apenas de alcance nacional, mas, sobretudo,
trans-nacional. A condição lusófona, com efeito, não é compatível com a posição
estritamente nacionalista. O mestre que a ensinar aos seus alunos, trabalhará como se fora um
escultor, modelando as almas juvenis para lhe imprimir os traços fisionómicos
do ser lusófono. São eles que a
destacam e lhe dão personalidade própria, a qual se projecta em lembrança no
passado, e em esperança e desejo no futuro. E, em si, realiza, deste modo,
aquela unidade da morte e da vida, do espírito e da matéria, que caracteriza o
Ser. O fim desta Arte é a renascença lusófona, tentada pela reintegração dos portugueses [e de todos os demais
lusófonos] no carácter que por tradição e
herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social,
subordinada a um objectivo comum superior. Em duas palavras: colocar a nossa
Pátria [lusófona, não apenas portuguesa]
ressurgida em frente do seu Destino. As Descobertas foram o início da sua Obra. Desde então até hoje tem
dormido. Desperta, saberá concluí-la…ou melhor, continuá-la, porque o
definitivo não existe. (…) A Lusofonia é uma Pátria porque existe uma Língua Portuguesa, uma
Arte, uma Literatura, uma História (incluindo a religiosa) – uma actividade
moral; e, sobretudo, porque existe uma Língua e uma História. A faculdade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus
sentimentos e pensamentos, é o que melhor revela o seu poder de carácter. Por isso, quanto mais palavras intraduzíveis tiver uma Língua, mais
carácter demonstra o Povo que a falar. A nossa, por exemplo, é muito rica em
palavras desta natureza, nas quais verdadeiramente se perscruta o seu génio
inconfundível. E é pelo estudo psicológico destes vocábulos, comparado com o estudo
das nuances originais (de natureza sentimental e intelectual) descobertas nas
Letras, na Arte, na Jurisprudência, no sentimento religioso de um Povo, que
podemos definir a sua personalidade espiritual, e daí concluir para o seu
destino social e humano. Se a nossa alma, em seu trabalho de exteriorização verbal, se condensou
em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonicamente originais,
também nas obras dos nossos escritores e artistas autênticos se nota uma
instintiva compreensão da Vida, em perfeito acordo com o génio da Língua
portuguesa. (…) Uma Pátria é também um ser vivo superior aos indivíduos que o
constituem, marcando, além e acima deles, uma nova individualidade. Esta nova
Individualidade representa consequentemente uma expressão da Vida superior à
vida animal e humana. A Pátria Lusófona é um ser espiritual que depende da vida
individual dos lusófonos. Por outra:
as vidas individuais e humanas dos lusófonos, sintetizadas, numa esfera transcendente, originam a Pátria
Lusófona. Temos de considerar a nossa Pátria como um ser espiritual, a quem
devemos sacrificar a nossa vida animal e transitória. (…) Observando agora o processo por que os seres se perpetuam e progridem,
vemos que os imperfeitos representam transições para os mais perfeitos. O
perfeito alimenta-se do imperfeito. O superior vive do inferior.
A lei suprema da vida é, portanto, a lei do sacrifício das formas
superiores às superiores. Até no mundo físico de revela e tem o nome de gravidade. O corpo menor
é atraído pelo maior. Atrair é viver; ser atraído é morrer. O pequeno corpo
atraído perde-se, morre no grande corpo que atrai… Os seres não realizam em si o seu destino, mas naqueles a que
sacrificam a sua existência. O rio é a morte de muitas fontes e o mar é a morte de muitos rios; mas
o rio no mar é mar. A consciência humana é também morte, o sacrifício de muitas
vidas animais e vegetais inferiores a ela. Assim o indivíduo sacrificado à Pátria fica também a ser Pátria. Cumpriu a fonte o seu destino, tornando-se rio, e o rio, tornando-se
mar e o indivíduo tornando-se Família, Pátria, Humanidade, subindo da sua
natureza individual e animal à perfeita natureza do Espírito. Nuno Álvares, por exemplo, morreu como homem para viver como Portugal.
Do mesmo modo, Portugal e as demais nações e regiões lusófonas devem
sacrificar-se em prol da Pátria Lusófona.
RUI SOUSA:
SOFIA A. CARVALHO: "O devir
messiânico-profético no pensamento português: linhas e rupturas em Arte de Ser Português de Teixeira de
Pascoaes e em Arte de continuar português
em António Quadros".
TÂNIA PEGO: "Filhos sem Pátria: Uma geração à deriva"
Palmilhando o rasto dos grandes navegadores/conquistadores/desbravadores, os portugueses nunca deixaram de empreender viagens para outros portos, para outras paisagens, herdando deles a procura “quase” incessante do seu “el-dourado”. Na bagagem carregam a “esperança” e a “lembrança”, palavras caras a Teixeira de Pascoes, que entendemos como sendo dois dos propulsores do movimento/viagem/migração dos portugueses e que, por arrastamento, definem a saudosista “alma lusíada”. Os que por outras paragens se deixaram encantar foram, gradualmente, perdendo a ligação com a pátria, não sem antes imprimirem a marca lusitana em seus herdeiros. Sub-repticiamente, os novos hábitos exigidos pelas necessidades de adaptação e de aceitação, foram esfumando o apego natal, criando novas fontes de paixão e lealdade, que, por sua vez, permitiram despontar os primeiros ecos de negação da sua terra e da sua gente. Os que não viram os seus sonhos satisfeitos e optaram por regressar à casa, vindos sobretudo de França, África, Brasil, encontraram alguns irmãos agrestes, que os receberam com palavras marcadamente discriminatórias: “fracesus”, “retornados”, “brasileiros”. Entenderiam eles que os que pisaram solo de outra mãe já não seriam nacionais puros, dignos de engrossarem as fileiras de sua “nação valente e imortal” por se encontrarem partidos/contaminados/descomprometidos? Percorrendo transversalmente uma breve coletânea de músicas contemporâneas portuguesas (“Homem do Leme”, “Filhos da Nação”, “Para os Braços da Minha Mãe”), onde se veem refletidos o impulso de ir, a saudade pungente que conduz a um retorno nem sempre amargo, pretende-se, recorrendo a Eça de Queirós, Eduardo Lourenço, Miguel Real, esboçar, em uma não tão boa moda pascoalina, uma (auto)biografia, recolhida por meio de depoimentos diretos e por observação de casos, dos filhos que viram a “mátria” tornar-se “madrasta”.
TÂNIA PEGO: "Filhos sem Pátria: Uma geração à deriva"
Palmilhando o rasto dos grandes navegadores/conquistadores/desbravadores, os portugueses nunca deixaram de empreender viagens para outros portos, para outras paisagens, herdando deles a procura “quase” incessante do seu “el-dourado”. Na bagagem carregam a “esperança” e a “lembrança”, palavras caras a Teixeira de Pascoes, que entendemos como sendo dois dos propulsores do movimento/viagem/migração dos portugueses e que, por arrastamento, definem a saudosista “alma lusíada”. Os que por outras paragens se deixaram encantar foram, gradualmente, perdendo a ligação com a pátria, não sem antes imprimirem a marca lusitana em seus herdeiros. Sub-repticiamente, os novos hábitos exigidos pelas necessidades de adaptação e de aceitação, foram esfumando o apego natal, criando novas fontes de paixão e lealdade, que, por sua vez, permitiram despontar os primeiros ecos de negação da sua terra e da sua gente. Os que não viram os seus sonhos satisfeitos e optaram por regressar à casa, vindos sobretudo de França, África, Brasil, encontraram alguns irmãos agrestes, que os receberam com palavras marcadamente discriminatórias: “fracesus”, “retornados”, “brasileiros”. Entenderiam eles que os que pisaram solo de outra mãe já não seriam nacionais puros, dignos de engrossarem as fileiras de sua “nação valente e imortal” por se encontrarem partidos/contaminados/descomprometidos? Percorrendo transversalmente uma breve coletânea de músicas contemporâneas portuguesas (“Homem do Leme”, “Filhos da Nação”, “Para os Braços da Minha Mãe”), onde se veem refletidos o impulso de ir, a saudade pungente que conduz a um retorno nem sempre amargo, pretende-se, recorrendo a Eça de Queirós, Eduardo Lourenço, Miguel Real, esboçar, em uma não tão boa moda pascoalina, uma (auto)biografia, recolhida por meio de depoimentos diretos e por observação de casos, dos filhos que viram a “mátria” tornar-se “madrasta”.
Palavras-Chave:
viagem, saudosismo, pátria, negação, identidade.